Renda de Bilro |
Renda de Bilro uma cultura que encontrou terreno fertil no Nordeste, especialmente no Ceará e no Piauí. As rendeiras do Morro da Mariana são conhecidas nacionalmente e até no exterior.
A renda de bilro é a mais rara, pois são poucas as rendeiras que ainda trabalham com este tipo de técnica hoje em dia. No alto de uma almofada, em formato de capacete, são fixados os fios que recebem em suas pontas os bilros – pequenas peças de madeira que facilitam o trançar. A rendeira fixa o desenho a ser tecido na almofada e os locais a serem contornados pelos fios são modelados com alfinetes. Feito isso, ela vai entrelaçando os bilros até todo o desenho aparecer em forma de renda. Este processo está praticamente extinto em diversas cidades nordestinas, que atualmente produzem apenas a renda de agulha.
Uma diferença básica entre os processos de fabricação da renda de bilro e da renda de agulha é que enquanto a primeira é confeccionada em diversas cores, a renda de agulha é predominantemente branca. Antigamente era possível encontrar trabalhos em cor preta e rosada e, hoje, algumas peças são feitas em cor bege, mas é incomum.
De tanto sucesso e reconhecimento, as rendeiras, há tempos, fazem parte do folclore e da cultura nacionais, estando presente em histórias e canções.
A lenda
Há uma lenda envolvendo a origem da renda e ela diz que “um jovem pescador usando pela primeira vez uma rede de pescar tecida pela sua noiva, apanhou do fundo do mar uma belíssima alga petrificada, que ofereceu à sua eleita. Tempos depois, partiu para a guerra. A noiva, saudosa e com pensamento voltado para o ausente, um dia, teceu outra rede que reproduziu o modelo da alga; os fios dessa rede eram terminados por pequenos chumbos. Assim foi descoberta a renda chamada “a piombiini”, ou de chumbos; os chumbos foram posteriormente substituídos por bilros. Dessa forma, de um pensamento amoroso teria surgido a renda de bilros.” (Rendas e Bordados do Maranhão – FUNC-MA).
A renda de bilros é realizada sobre uma almofada (Brasil) dura, o rebolo (nome dado à almofada em Portugal), cilindro de pano grosso, cheio com palha ou algodão, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino.
Não é conhecida a origem da renda de bilros. Sabe-se que povos muito antigos usavam tecidos cujo aspecto se assemelhava a renda e que se presume fossem elaborados de forma semelhante à renda actual. Admite-se que os Fenícios podem ter sido agentes divulgadores das rendas, através das suas trocas comerciais e, portanto, também ao longo da costa marítima portuguesa, onde estabeleciam contactos privilegiados. Outra corrente afirma terem chegado ao nosso país através dos contactos com o norte da Europa, onde a arte apareceu nos seus principais portos.
É um trabalho formado pelo cruzamento sucessivo ou entremeado de fios têxteis, executado sobre o pique e com a ajuda de alfinetes e dos bilros. O pique é um cartão, normalmente pintado da cor açafrão para facilitar a visão por parte da executante, onde se decalcou um desenho, feito por especialistas e em papel quadriculado, cuja origem está na criatividade da autora, que por vezes recorre à estilização de objectos naturais como as flores e animais. Os alfinetes fixam o trabalho ao pique e são colocados em furos estrategicamente efectuados no desenho base. O bilro é um artefacto de madeira em forma de pêra alongada onde é enrolada a linha (fio têxtil) que vai sendo descarregada à medida que o trabalho avança. Todo o trabalho é executado com o auxílio de uma almofada cilíndrica, onde é fixado o pique, que, por sua vez, está pousada sobre um banco de madeira cuja forma permite a fácil alteração da posição da almofada, que roda sobre si, enquanto permita uma posição cómoda a quem executa.
Indefinida que está a sua origem resta apurar a data do seu aparecimento no nosso país e, como tal, consta que a primeira vez que se falou na palavra renda, entre nós, terá sido no reinado de D. Sebastião em 1560.
No reinado de D. João V o país foi inundado e influenciado pelas rendas com origem na Flandres, dado que o protocolo da corte obrigava ao uso das rendas flamengas, facto que veio prejudicar o desenvolvimento das nacionais. Esta situação originou a revolta das rendeiras nortenhas que enviaram o seu protesto, perante o rei, através da vila-condense Joana Maria de Jesus, que conseguiu permissão para o uso das rendas nocionais em lenços, lençóis, toalhas e outro bragal de casa, continuando proibido o seu uso pessoal. As rendas nacionais foram libertadas destas peias em 1751, no reinado de D. José, passando a poder ser usadas na roupa branca de uso das pessoas, toalhas, lençóis e outras alfaias da casa. Porém a entrada na capital das rendas feitas no resto do país era sujeita ao acompanhamento de guias passadas pelos escrivães das câmaras, embora, pelo facto de na sua feitura se empregarem somente pessoas pobres, estivessem isentas de impostos.
E foi assim que na classificação das rendas se passou a denominar de aristrocáticas, hoje em Peniche chamadas eruditas, aquelas que imitam as estrangeiras por serem mais elaboradas e utilizando linhas finas, e as populares que são aquelas que tradicionalmente sempre foram feitas pelo povo.
“ONDE HÁ REDES HÁ RENDAS” e Peniche não foi excepção, como não foram quase todas as povoações do litoral onde se desenvolve actividade piscatória. Num livro publicada em 1865 pelo então capitão do porto Pedro Cervantes de Carvalho Figueira refere-se que umas senhoras, que na época contavam mais de oitenta anos, afirmavam que a sua tia/avó lhes mostrava piques das rendas que tinha feito em menina, o que atesta que as rendas, em Peniche, já se faziam em meados do século XVIII.
Textos e Fonte: Max e Globo
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